4°Ciclo de Debates CONTRAF-BRASIL DEBATEU ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO, COOPERATIVISMO E COMERCIALIZAÇÃO
A 4° rodada do Ciclo de Debates da Contraf-Brasil, realizado de
forma virtual na manhã desta sexta-feira (30), trouxe luz à discussão de
importantes aspectos sobre Organização
da Produção, Cooperativismo e Comercialização.
O
professor da Universidade Federal do Recôncavo Bahiano (UFRB), Silvio Porto,
colaborou na construção da conversa e relembrou em sua fala que não existe no
mundo máquina que seja capaz de substituir o gosto e a diversidade da
agricultura familiar. E foi sob esta ótica que Porto afirmou a necessidade de
que as trabalhadoras e trabalhadores na agricultura familiar do Brasil disputem
os espaços na luta pela reafirmação da identidade da agricultura familiar e
pelo fortalecimento da produção de alimentos saldáveis.
A
agricultura familiar é oitava maior produtora de alimentos no mundo, e tem sido
importante instrumento na garantia da segurança alimentar e nutricional em todo
país. Além disso, tem se destacado pela sustentabilidade na produção e manejo
de alimentos, respeitando sempre a biodiversidade e os recursos naturais.
De
acordo com o professor, atualmente o país enfrenta uma hegemonia na produção da
soja e do milho. Fora a porcentagem do plantio destinado a exportação, os
produtos que sobram não representam artigos destinado apenas para animais, ou
seja, utilizados para fabricação de ração.
Parte
da produção de soja e milho, principalmente de soja é transformada em alimentos
e pode ser encontrada nos produtos ultra processados. Para Silvio Porto, este é
um grande problema a ser enfrentado. "A população brasileira possui uma
alimentação baseada, majoritariamente, em produtos que não são alimentos
de verdade. Como acontece com o queijo fake, uma mercadoria que tem sido
vendida como queijo, mas que na verdade é apenas um combo de gordura
hidrogenada, amido, sabor artificial de queijo e diversos outros produtos
químicos. Desavisadamente, as pessoas compram essas mercadorias porque são mais
atrativas do ponto de vista do preço e esquecem que, na verdade, estão consumindo
veneno em forma de alimento", explicou Porto.
Segundo
Silvio Porto esta é a realidade atual da alimentação brasileira e é apenas um
dos desafios impostos à agricultura familiar. Na próxima safra, por exemplo, a
expectativa é de que o Brasil alcance a casa de 40 milhões de hectares de
soja. "Existe uma apropriação por parte do agronegócio, até mesmo de produtos
que, historicamente, sempre foram vinculados à identidade e modo de vida da
agricultura familiar. Isso representa a destruição dos territórios, a
desorganização das economias regionais e a uma grande perda da biodiversidade.
A ampla desestruturação que vem acontecendo é o maior desafio para
pensarmos como podemos reposicionar a agricultura familiar neste contexto de
desmonte. Precisamos reforçar a necessidade da Reforma Agraria e fazer o debate
político a partir desta narrativa", afirmou.
Porto
concluiu afirmando que é inadmissível que metade dos estabelecimentos rurais
brasileiros tenham menos de 10 hectares, porque isso retira qualquer perspectiva
geracional, pois os filhos e filhas que nascerem em uma família agricultora com
unidade produtora com de menos 10 hectares, dificilmente permanecerão na
agricultura. Além disso, o professor reforçou a importância da valorização do
papel da mulher agricultora e da juventude agricultora, que apesar de
participarem em todas instancias produtivas, ainda são muito invisibilizados
devido a naturalização do machismo e do patriarcado.
O
coordenador geral da Contraf-Brasil, Marcos Rochinski afirmou que é necessário
enfrentar o modelo perverso do agronegócio e que a categoria precisa manter um
pé na roça e outro na organização. "Devemos retomar o lema motivador comida
verdade para o campo e para cidade. Infelizmente, cerca de 400 mil vidas já
foram perdidas para Covid-19 e acredito que boa parte dessas mortes poderiam
ter sido evitadas com medidas por parte do governo que facilitassem o acesso a
uma boa alimentação, pois mais de 19 milhões de pessoas estão de volta a
insegurança alimentar. Nessa atual conjuntura de retrocessos, é preciso
lutar contra as medidas que querem apenas abocanhar mercados institucionais em
detrimento daquilo que é nossa identidade", ponderou o dirigente.
Já
secretária Geral da Contraf-Brasil, Josana de Lima relembrou que enquanto a
fome cresce em todas as regiões do país, os programas destinados a subsidiar o
crédito agrícola, o seguro rural e o apoio à comercialização sofreram severa
desidratação no Orçamento da União para 2021. Exemplo disso, a agricultura
familiar sofreu corte de R$ 1,35 bilhão de recursos no orçamento federal.
"Diante deste cenário, precisamos repensar os processos que garantam a
diversificação, a organização e comercialização da produção, bem como
fortalecer experiencias exitosas", afirmou a dirigente.
Sobre os Ciclos de Debates
Todas
as sextas-feiras, as agricultoras e agricultores familiares se reúnem,
virtualmente, para debater um importante assunto no Ciclo de debates. Sempre às
9h30, com mediação de Vivian Libório, Assessora Técnica da Federação dos
Trabalhadores na Agricultura Familiar do estado da Bahia (Fetraf-BA),
Os
ciclos fazem parte de um processo preparatório de construção das pautas que
serão levadas ao V Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na
Agricultura Familiar e é uma oportunidade para organizar a categoria na luta
contra os retrocessos. O próximo encontro acontece na próxima sexta-feira (7) e
trará como tema "Juventude".
O
primeiro Ciclo de Debates aconteceu no dia (9/04) e trouxe para discussão
o assunto "Formação". O professor e Assessor de formação e elaboração da
Fetraf-SC, Neuri A. Alves, foi o facilitador.
Reforma
Agrária, Territórios e Acesso à Terra, foi o tema do 2° Ciclo de debates,
realizado no dia (16/04). Desta vez, a palestra ficou a cargo do Professor
Titular da Universidade Federal Fluminense e Coordenador do Laboratório de
Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades (LEMTO ), Carlos Walter
Porto-Gonçalves. Já o 3° Ciclo de Debates da Contraf-Brasil, realizado no
dia (23/04), discutiu assuntos relacionados à luta das mulheres e recebeu como
palestrante a economista, mestre em sociologia pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutoranda em Ciências Sociais, Desenvolvimento e
Agricultura pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Luiza Dulci.
Escrito por: Leidiane Souza
Fonte: CONTRAF-Brasil