Pesquisa da FGV aponta que Programa Cisternas melhora saúde dos bebês no Semiárido brasileiro
Pesquisa da Escola de Economia
de São Paulo (FGV EESP), intitulada Climate adaptation policies and
infant health: Evidence from a water policy in Brazil,
apontou que as gestantes da região do Semiárido que são beneficiadas pelo
Programa Cisternas têm maiores chances de dar à luz crianças mais saudáveis.
"A cada semana que as gestantes
são expostas a esse programa, são somados mais 2 gramas de peso no bebê que
está para nascer", explica o pesquisador que coordenou a pesquisa, Daniel da
Mata. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que se um bebê nasce
com menos de 2.500 g está enquadrado como "baixo peso" e apresenta fator de
risco para inúmeras complicações no futuro.
Para a diretora de Promoção da
Inclusão Produtiva Rural e Acesso à Água do MDS, Camile Sahb, a pesquisa
reforça o reconhecimento do Programa de Cisternas no âmbito nacional e
internacional. "Diversos estudos e pesquisas apontam a redução dos índices
de mortalidade infantil, a melhoria da segurança alimentar, da qualidade de
vida, do ganho de tempo, da melhoria da empregabilidade dos beneficiários",
comenta.
"Esse estudo da FGV só reforça a
importância que a implementação das tecnologias sociais para captação e
armazenamento da água da chuva tem para redução das desigualdades e para a
dignidade das pessoas que vivem no Semiárido", completa.
O Ministério do Desenvolvimento
e Assistência Social, Família e Combate à Fome lançou edital de chamamento público
para implantação de cisternas no Semiárido, que prevê o
investimento de R$ 400 milhões. São dez estados contemplados (os nove da Região
Nordeste, além de Minas Gerais), com uma meta de 47.550 cisternas de consumo
(placas de 16 mil litros) e 3.940 cisternas para produção de alimentos.
Estudo
Daniel da Mata explica que,
devido a vulnerabilidades climáticas, o Semiárido brasileiro tem sido espaço
para criação de diferentes políticas públicas que buscam gerar desenvolvimento
e melhoria na qualidade de vida para a população que habita a região. Ele
comenta que o interesse em estudar o Programa Cisternas, principalmente o
recorte "Primeira Água", que diz respeito à construção desses equipamentos nas
residências de comunidades do Semiárido, está relacionado ao impacto que essa
política pública pode ocasionar.
"Por meio de análises
econométricas, comparando as gestantes que tiveram contato com o Programa
Cisternas desde o início da gestação, com aquelas que foram expostas somente em
poucas semanas, identificamos que, quanto maior for o acesso às cisternas, maior
será o peso do recém-nascido", aponta.
Segundo o pesquisador, o
benefício proporcionado à saúde das gestantes chega a ser um fato curioso, já
que elas não fazem parte do grupo prioritário do Cisternas, que engloba
crianças e idosos.
"Talvez nossa pesquisa possa
servir de evidência para ampliar o público prioritário desse programa, pois
estamos falando de uma política pública relativamente barata, visto que os
custos de produção e implementação dos equipamentos não são caros, mas trazem
um benefício significativo para a saúde infantil", acrescenta.
O pesquisador também acredita
que pesquisas como esta são úteis para identificar se uma determinada política
pública é eficaz. "Tendo em vista que o público-alvo de boa parte das políticas
públicas, como o Programa Cisternas, são populações vulneráveis, é possível
medir o quanto um gasto público está sendo efetivo para impactar na vida dessas
pessoas. Sendo assim, as mesmas técnicas aplicadas a um programa podem ser
aplicadas em outras políticas públicas existentes ou novas", acredita.
Dados precisos
Para a pesquisa, foram coletados
cinco mil dados georreferenciados acerca das gestantes que receberam as
cisternas em um período de 2011 a 2017. "Esses registros administrativos sobre
o programa informam exatamente onde essas cisternas foram construídas e para
quem foram entregues", detalhou Daniel da Mata.
"Entre as mulheres que receberam
as cisternas, identificamos aquelas que estavam em algum momento entre as 40
semanas de gestação, a fim de cruzar as informações sobre o recebimento desses
reservatórios com os dados de saúde do Sistema de Informações sobre Nascidos
Vivos (Sinasc)", explica.
Da Mata ressalta que o Sinasc
conta com informações muito precisas acerca dos recém-nascidos. Além disso, os
dados do Programa Cisterna, provenientes do MDS, permitem averiguar se uma
gestante recebeu uma cisterna e em qual período da gestação ela estava.
"A partir daí foi possível
analisar o impacto de receber esse equipamento durante a gravidez e comparar a
diferença entre as gestantes que receberam no início da gestação ou mais para o
final. Se uma gestante recebe uma cisterna no início da gravidez, caso a região
onde ela mora sofra com períodos de seca, ainda assim ela terá água garantida
para os próximos meses, o que pode fazer total diferença na saúde dela e do
bebê", complementa.
O estudo foi selecionado pela
Comissão de Pesquisa e Inovação da FGV entre os 17 destaques de pesquisa
científica em 2023, que serão premiados durante o VII Simpósio de Pesquisa da
Fundação Getulio Vargas. Este ano, o evento será entre os dias 12 e 14 de
setembro, no Centro Cultural FGV, no Rio de Janeiro.
Assessoria de Comunicação - MDS