LIDERANÇAS DISCUTEM LUTA FEMININA NO 3º CICLO DE DEBATES DA CONTRAF-BRASIL

"Mulheres são como água, crescem quando se juntam", foi a frase que deu tom ao 3° Ciclo de Debates da Contraf-Brasil, realizado na manhã desta sexta-feira (23).  

A defesa da vida e dos direitos, a luta por igualdade de oportunidades, produção e renda, bem como o combate ao machismo e à violência de gênero, foram apenas alguns dos assuntos discutidos durante o encontro virtual, que reuniu mais de 100 lideranças da base Contrafiana de todo o país para debater as pautas importantes relacionadas às mulheres, em especial, às mulheres camponesas.

A coordenadora de Políticas Sociais da Contraf-Brasil, Maria Eliana de Lima Santos realizou a abertura da atividade com boas-vindas aos participantes e chamou a atenção para o cenário de retrocessos vivenciados atualmente. Ela relembrou que muitas etapas foram concluídas no que diz respeito à luta das mulheres, mas reforçou que ainda há muito a ser feito.  

"Minha vida sindical começou nos anos 2000 e essa foi minha faculdade.  Enfrentei muitas barreiras e aprendi a importância da nossa participação nos espaços públicos.  Não queremos ocupar os lugares dos homens, queremos que os homens entendam nosso local de fala, valorizem o papel da mulher e que possamos ser parceiros, lado a lado, nas trincheiras da luta", ressaltou.

A economista, mestre em sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutoranda em Ciências Sociais, Desenvolvimento e Agricultura pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Luiza Dulci, foi a facilitadora do debate e desenvolveu sua fala trazendo dados do Censo do IBGE de 2017, que revelou que a desigualdade na distribuição da posse da terra no Brasil é uma das mais acentuadas do mundo, principalmente, a desigualdade entre homens e mulheres.

De acordo com o estudo, as terras brasileiras que pertencem às mulheres correspondem a apenas pouco mais de 5% das áreas rurais. A maioria das agricultoras com terras tem propriedades com áreas menores de 5 hectares. Em contrapartida, os homens são donos de 87,32% das propriedades no país.

Luiza ressalta ainda que os desafios impostos às mulheres agricultoras são imensos e foram ainda mais intensificados durante a pandemia de coronavírus. Para ela, a luta contra a desigualdade em todos os espaços deve ser constante.

"Somos mais de 50% da população brasileira e, infelizmente, ainda somos marginalizadas. O papel da mulher é indispensável e precisa ser valorizado. Precisamos dar visibilidade, inclusive, ao árduo trabalho não remunerado de cuidadora da família, realizado historicamente por mulheres e muito pouco reconhecido. É preciso criar uma aliança entre as mulheres do campo e da cidade e pensar ações efetivas em todos os espaços púbicos. Por meio do processo participativo e do compartilhamento de conhecimentos entre as gerações conseguiremos visibilidade na luta e nas tomadas de decisões".  

Já a Coordenadora de Formação e Educação Profissional da Contraf-Brasil, Elizangêla Araújo parabenizou a força da unidade de luta da base, mesmo em tempos de pandemia e reforçou que é necessário seguir firme com coragem e constância na busca por avanços.

"A mulher está presente em todos os processos de produção. Está nas mãos das mulheres cuidar da família, cuidar da educação dos filhos, da alimentação, ser responsável pelo sustento e de uma ampla e dura sobrecarga de trabalho. Somos nós que fazemos as coisas acontecerem, porém, quem sempre está nos espaços de poder e a frente dos projetos que geram renda são os homens.  Precisamos tornar esse cenário igualitário e participativo.  Além disso, mais que nunca, precisamos olhar para as companheiras com empatia e acolhimento. Devemos fortalecer a luta e pensar politicas públicas que levem em conta toda a integralidade da questão humana e que vá muito além  das mãos que alimentam a  vida com o bem viver no campo, nas águas e nas florestas", ponderou a dirigente.

Já a secretaria Geral da Contraf-Brasil, Josana de Lima concluiu afirmando que o trabalho da mulher agricultura vai muito além da produção. "Nós somos mães, nós cuidamos e carregamos nossas histórias na bagagem. Conseguimos enxergar e perceber  nossa história desde a nossa comunidade até o diálogo que fazemos.  O desafio é trazer para nossa luta mulheres e homens comprometidos que queiram construir um diálogo de inserção, reflexão e compreensão de que a mulher possui um papel fundamental e indispensável na sociedade, portanto,  deve ser valorizada" afirmou.

Sobre os Ciclos de Debates

Todas as sextas-feiras, as agricultoras e agricultores familiares se reúnem, virtualmente, para debater um importante assunto no Ciclo de debates. Sempre às 9h30, com mediação de Vivian Libório, Assessora Técnica da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do estado da Bahia (Fetraf-BA),

 Os ciclos fazem parte de um processo preparatório de construção das pautas que serão levadas ao V Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar e é uma oportunidade para organizar a categoria na luta contra os retrocessos. O próximo encontro acontece na próxima sexta-feira (30) e trará como tema a Organização da Produção, Cooperativismo e Comercialização.

O primeiro Ciclo de Debates aconteceu no dia (9/04)  e trouxe para discussão o assunto "Formação". O professor e Assessor de formação e elaboração da Fetraf-SC,  Neuri A. Alves, foi o facilitador.  

Reforma Agrária, Territórios e Acesso à Terra, foi o tema do 2° Ciclo de debates, realizado no dia (16/04). Desta vez, a palestra ficou a cargo do Professor Titular da Universidade Federal Fluminense e Coordenador do Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades (LEMTO ), Carlos Walter Porto-Gonçalves.

Escrito por: Leidiane Souza - Jornalista da CONTRAF -Brasil